sexta-feira, 26 de agosto de 2016

quarta-feira, 27 de julho de 2016

EXPECTATIVAS – K.O.



Eu espero muito da vida, sabe? Tenho ideias, planos, objetivos e expectativas. Mas para alcançá-las, terei de suar muito a testa de meus pais, é claro, pois ainda sou adolescente. Uma das coisas que quero ser é médica. Andar de jaleco branco, curar as pessoas como aqueles velhinhos do Age of Empires, ser bonita, enfim. Os médicos parecem felizes. Assim como as girafas. Por isso também serei veterinária, acho que não deve ser tão diferente curar animais. Gosto de gatos, cachorros, mas só os fofos, né gente? Nem pensar cuidar de cachorro vira lata... Eca! Mas minha vida não será só de curar, quero ter meu escritório, como naqueles programas da TV, acho que serei advogada, pois quem tem escritório é advogado. Vou andar sempre bem vestida. Ir àqueles tribunais e defender os bandidos da polícia. “Este ladrão ordinário é inocente, caso encerrado, meritíssimo!”. O problema vai ser quando os pacientes quiserem ir ao escritório. Acho que deixarei um recado com minha secretária, “apenas doentes que não sujem minha roupa de advogada”. Daí eu tive a ideia de ser psicóloga, que cuida de loucos. Receberei artistas de TV e colunistas de jornais para consultas. E é claro, onde eu guardar o jaleco branco eu guardarei também uma camisa de força. Receitarei remédios também aos meus clientes bandidos, para que não roubem mais. E perto da hora do almoço, darei um pulo no restaurante para ver como está o cardápio, pois também serei nutricionista. Farei de tudo para que os animais de que cuidarei tenham uma excelente refeição na clínica que construirei, pois também serei arquiteta. Mas, convenhamos, farei um projeto de uma clínica de advocacia, para que animais possam expressar seus sentimentos, uma vez que farei uma coletânea para um livro, que se chamará: O Senhor das Alianças. É claro que este livro será lançado em filme, e eu serei a elfa principal, pois também serei atriz. Darei oportunidade aos meus clientes bandidos, como vilões na trama e aos animais, que serão falantes. Quando eu estiver cansada depois de um dia duro como este, irei me aposentar. Como estarei mais velha, serei astronauta, pois astronautas não fazem mais nada além de ficar comendo e bebendo no espaço, é mole? Quando retornar a Terra, irei viajar pelo mundo, conhecer lugares exóticos, irei a Disneylândia e a parques de diversões, comerei muitos doces e irei brincar de muitas coisas. Quando estiver cansado de ser aposentada, irei trabalhar de Call Center, para passar trotes e, por que não, vender qualquer coisa que precisarem e depois, por fim, serei atendente de alguma sorveteria, onde o salário seria justamente sorvete. Bom, é isso, acho que farei muita coisa quando me tornar adulta, tenho mil sonhos e desejos. Todavia, meus pais sempre dizem que é preciso ter muito dinheiro e tempo para isso. Ora, bolas! Nunca ouviram falar na casa da moeda? Abrirei uma franquia e meus clientes bandidos, posteriormente curados com minhas terapias, trabalharam lá. As coisas são tão fáceis de fazer e os pais sempre complicam. Ainda bem que sonhar não custa nada!




segunda-feira, 25 de julho de 2016

A CÓLERA NOS TEMPOS DE AMOR – L.B.



Titonho gostava de mandar e-mails. De quando em vez, ele inventava um endereço e mandava assim mesmo, sem conhecer o destinatário e sem saber o que lhe aguardava na resposta. Nada o impedia, intimações da justiça, promoções imperdíveis, uma vaga de emprego com 528 candidatos já inscritos, devocionais de saúde, entre outros. Até o dia em que uma pessoa, que não era jurídica, lhe respondeu. Era Josefina.
Josefina era a filha de Demerbal, o chefe da repartição de e-mails da qual Titonho trabalhava.  Ele percebeu que ela havia respondido diretamente para ele, sem cópia para ninguém (diferente das pessoas que mandavam reclamações com cópias até para o Papa). Ela disse: “Oi, garotão, what’s up?”. Ela era jovem como ele, então as gírias são compreensivas. Ele respondeu: “Você é a filha do seu pai?”. Ela replicou: “Sim...”. Bom, depois de mais uns oito e-mails, Titonho pediu Josefina em casamento. Ela aceitou. Mas Demerbal ficou sabendo. Ele conhecia um hacker que conseguia acessar o histórico de acessos de qualquer um, apenas sequestrando o indivíduo e simplesmente exigindo a senha do e-mail para liberação.
Demerbal demitiu Titonho, que foi trabalhar em uma empresa cartográfica. Ele agora mandava cartas para Josefina. Depois da 14º, Demerbal descobriu tudo e mandou capangas até o remetente dar uma surra em Titonho. Ele acabou indo morar em um albergue, de onde continuou em seu sonho de casar-se com Josefina, desta vez mandando mensagens por pombo correio. O que aconteceu? Demerbal tinha um criadouro de pássaros. Ele mandou o pombo de volta com falcões e águias para bicar a cabeça de Titonho. Ele, sem querer desistir de seu amor, tentou o morse, enviados de uma prisão turca, da qual ele, deliberadamente, se dispôs a cumprir pena. Demerbal se chamava Demerbal Morse. E ele era descendente de turcos. Na verdade, de prisioneiros turcos. Titonho saiu pelo ralo, literalmente.
Passados 50 anos, Titonho, já com as marcas da idade no rosto, decidiu fazer aquilo que nunca havia tentado e que poderia representar seu fim: pediu Josefina em casamento, pessoalmente, na presença de Demerbal. Demerbal aceitou. Até disse para Titonho posteriormente: “Achei que fosse medroso, mas agora percebi que não”.
Feito isso, eles se casaram. Titonho e Josefina viveram felizes em uma casa de repouso durante sete meses, até a aposentadoria ter sido suspensa pelo Ministro da Previdência Social. Eles, sem alternativas, foram viver na casa de Demerbal. Demerbal não aceitou. Ele respondeu: “Depois de tudo o que passamos, é assim que me agradecem?”. Por e-mail.

Não culpem Demerbal. Ele nunca se deu bem com as tecnologias. 





domingo, 24 de julho de 2016

O MORALISTA E EU – G.L.



Não param de chegar cartas aqui na redação do jornal insinuando que eu sou o Moralista, talvez pelo fato de ele nunca sair em público. Pois bem, eu não sou. E o próprio provará. Estive com ele esta semana para uma conversa rápida, já que, para mim, é corriqueiro estar na mídia e cercado por pessoas influentes - apesar da minha pose socialmente preocupada na linha de frente.
Ele foi meu tutor por 20 anos, durante o ensino fundamental.
Falando nisso, nosso papo principal foi sobre a situação atual momentânea do nosso país. Estamos num intervalo de intenso otimismo, e ele, não poderia deixar de observar: "A política econômica a que estamos acostumados me preocupa; mal chega o dia 15 e já estou pedindo fiado". Ele ainda fez observações sobre a projeção do PIB: "Não faz sombra nem pra um mosquito". Eleições de 2016: "Votar em X ou Y não vai resolver. Por conta disso, votarei em Z", proclamou em tom poético. E, ainda, a inflação: "Coloco todos os dias um marca-passo para ir ao mercado".
Sobre esporte, ele se mostra sempre bem entendido. Sabe desde futebol até bocha. Sobre a Copa de 2014 no Brasil, ele foi curto: "Piada com desconto em folha". Disse acompanhar todos os outros esportes no país: "gosto dos esportes que o Brasil mais valoriza, como o futebol e o futebol".

A versatilidade dele é imensa. E não poderia deixar de falar da sociedade que o rodeia (rica) e que o chateia (pobre): "Quem é pobre sempre aparece" e "nada mais engraçado do que o pobre, consegue sorrir com sua desgraça - que nós provocamos! Que hilário", finalizou.




sexta-feira, 22 de julho de 2016

A INTERPRETAÇÃO DOS PESADELOS – M.



Muita coisa interessante foi descoberta no século XIX: Meucci inventou o telefone, Edison a lâmpada incandescente, Mendel fez grandes descobertas no campo da genética e Darwin fez uma interessante viagem de barco e conheceu tartarugas. Mas acredito que o campo mais interessante foi o de Sigmund Freud. Ele foi o primeiro escritor que tive que ler oito vezes o mesmo livro para entender o que queria. Ainda assim tenho lá minhas dúvidas de interpretação.
Muitas das descobertas de Freud foram descobertas baseadas em sua própria experiência problemática. Isso me chamou muito a atenção durante alguns de meus pensamentos filosóficos enquanto vendia bilhetes falsos nas estações de trem. Podemos até mesmo amostrar com outras pessoas, mas nada como observar isso na própria pele.  É dele o conceito de “Complexo de Édipo”, no qual a criança tende a gostar mais do pai ou da mãe, dependendo de quem liberar mais o videogame.
Fiquei pensando muito tempo sobre os temas que ele estudou. Seu livro mais famoso, “a interpretação dos sonhos”, já diz tudo. Sim, ele interpretava sonhos. Não como os atores brasileiros interpretam nas telas, como se não soubéssemos que estão mentindo, mas de uma forma mais condizente. Por causa desse livro, cheguei a uma conclusão importante: “Triste é aquele homem que sonhou com os números da loteria em romanos e não sabe fazer a conversão”.  Talvez desse ponto surja o princípio de minha tese da interpretação dos pesadelos.
Alguns dos meus colegas de trabalho afirmaram que eu era louco por ler os trabalhos desse austríaco. Loucos eram eles: eu nunca trabalhei. Na verdade, certa vez li tanto os livros dele que pensei eu mesmo estar louco, como constatou para si o Alienista, mas ao invés de me isolar num hospício, tentei a hipnose. Confesso que na época eu não encontrei os métodos freudianos desta prática, já que ele mesmo havia abandonado. Então tentei assistir o telejornal chamado “tendencial”, e acabei dormindo e sonhando que eu estava bem informado. Mas não estava, era um pesadelo.
Daí, conheci um antigo professor chamado Assis de Machado, que também era lenhador. Ele conhecia Freud como ninguém (era louco). Ele disse que pesadelos, segundo o psicanalista, derivavam de nossos próprios medos. Ele, por exemplo, tinha medo de quando chegava eu sua casa a conta de luz. Todo o começo do mês era uma aflição. Ele chegou a sonhar que a própria usina hidrelétrica, a termelétrica, as torres eólicas e os painéis solares vinham lhe cobrar a energia gerada durante o mês. Ele inclusive tentou sobreviver apenas com lenha. Desta vez as árvores lhe cobraram a dívida durante o sono. Foi então que ele resolveu encarar seus medos e começou a pagar as contas. Seus pesadelos sumiram e as distribuidoras de energia se salvaram da falência.

Ele acabou fazendo sua tese de doutorado sobre o assunto, entretanto, no dia da entrega, ele esqueceu onde havia deixado sua monografia. Foi reprovado e excomungado da comunidade acadêmica por 15 anos. Uma semana antes ele me solicitou para dar uma olhada no trabalho e deixei em cima do fogão a lenha. Antes que minha sobrinha acendesse o fogo, resgatei-o, mandei para uma revista científica e concorri ao Nobel de medicina. Mas calma, não o culpem por ser meu amigo. Isso tudo foi apenas um sonho (ou pesadelo?).




quinta-feira, 21 de julho de 2016

COMO CRIAR UM FILHO – D.B.



Bom dia. Hoje, humildemente, quero explanar sobre como se criar um filho. Pois depois que eu criei um, qualquer paspalho pode criar, é claro.
Primeiramente, não é necessário ter experiência. Um dia fomos filhos. E um dia nossos pais foram filhos. Então já era, certo?
Feito isso, viva normalmente. Eu, por exemplo, gosto de pescar na roça no domingo. Mas detesto quando meu filho chora em cima do barco, espantando todos os peixes, e como minha mulher está trabalhando (segundo diz a canção), tenho que dar um jeito. Definitivamente detesto pescar.
Então vou para o bar beber uma cerveja. Mas o Morcilha, dono do bar, nunca tem leite em mamadeira. Sequer leite ele tem. Meu filho sempre chora ao ouvir o Candongo cantando seus pagodes. É de doer os ouvidos. Mas para o bebê é pior, pois seus ouvidos são mais sensíveis. Absolutamente eu não gosto de bar.
Logo, tento ver o jogo do Flamengo e Corinthians tomando a cerveja que deveria ter tomado no bar. Mas logo vem a cagança. E não é do jogo em questão. É do moleque mesmo. Tenho que trocar aquela meleca que parece o cérebro do apresentador do programa posterior ao jogo. E cheira pior que purê de batata estragada. Categoricamente eu não gosto de futebol aos domingos.
Para ser sincero, meu filho não dá nenhum trabalho. É fácil cuidar desses pequenos detalhes cotidianos. Principalmente quando você pode pagar por uma babá como eu. Daí eu posso pescar, beber e curtir um futebol sem me preocupar com o meu filho. Quando eu era pequeno as coisas eram mais difíceis. Meu pai me dizia: “Filho, faça por merecer!”. E é isso que eu faço com meu garoto, mesmo que ele seja um bebê. Demiti a empregada e o deixei sozinho durante o último domingo.
É claro que eu levei umas bofetadas de minha mulher por isso. Mas eu estava sendo original, sendo eu mesmo, um paspalho.
Aos trancos e barrancos ele cresceu, hoje está com cinco anos. Aos três fomos a Disneylândia, e aos quatro, a agência de viagens me processou por eu não ter quitado a dívida e fui para a cadeia. Mas como tinha amigos influentes na chefatura (que eram subordinados ao conglomerado de mídia a qual eu faço parte), consegui um habeas porcos. Meu filho não sentiu minha falta, e até aprendeu a andar, falar e a tocar violino durante esse tempo. Quando eu voltei, ele esqueceu tudo.

Bom, acho que era isso. Criar um filho é tão fácil quanto juntar a documentação para um processo seletivo de bolsas do governo. E fique tranquilo: quanto se sentir incapacitado, ligue a caixinha mágica a sua frente na sala que eu lhe darei algumas dicas. De muitas coisas, e também de como criar um filho. Pois o mundo tem muito a oferecer a seu filho. E isso, terminantemente, qualquer paspalho sabe. 




quarta-feira, 20 de julho de 2016

O PRIMEIRO AMOR – L.B.



Desde os tempos mais primórdios, como cantam os sambas-enredo, o amor está aí. Seja romântico ou cruel, na primavera ou na delegacia de polícia. Muitos me perguntam: “quem foi o teu primeiro amor?”. Apesar do enxerimento, sempre digo que foi há muito tempo. Quem? Bom, depende do que seria esse primeiro amor. Às vezes podemos pensar na mãe. Ela nos trouxe ao mundo e nos ensinou a andar e falar. Ensinou a chorar e ser responsável. A compartilhar e a amar. Ela nos amou primeiro! Mas esqueçam dessa teoria e vamos para o meu caso: eu nasci de uma experiência científica que deu certo (apesar do que dizem), e hoje possuo alguns neurônios mais avançados que a maioria dos seres humanos. Consigo, inclusive, ver o que as pessoas pensam enquanto estão amando, ou seja, em amor. Como fui criado em laboratório, meu irmão mais velho era um ratinho, chamado Larry. Ele havia sobrevivido a uma experiência a qual me deu a oportunidade de ser o pioneiro humano de tal experimento. Apesar disso, ele não foi meu primeiro amor, nem o Dr. Carlos Cubano, autor do experimento, nem as enfermeiras, tão pouco os medicamentos. Foi o espelho. Quando vi aquele homem em minha frente, me apaixonei. À primeira vista. O experimento foi um sucesso. Como não me amar?
Se toda essa baboseira não for meu primeiro amor, então foi no colégio. Uma menina chamada Valentina me bateu por eu ser assim, um amante natural. Ela notou que ao socar minha cara, eu ainda continuava com os olhos nela. Isso a fez amolecer o coração e as pancadas viraram afagos. Alguns anos mais tarde me ligaram do esquadrão antissequestros para auxiliar em um caso. Valentina era a chefe dos atiradores de elite. O sequestrador hoje é casado com ela.
Se ainda isso não servir, fico com meu casamento. Eu sonhava tanto em casar que quando acordei, já estava no altar (caído por ter dormido). E ela estava na minha frente, vestida de noiva. Era linda. Pedi seu telefone. Ela se fez de difícil. O pastor pediu silêncio. Mas eu estava apaixonado, e a chamei para dançar. Todos ficaram atônitos, a minha futura sogra dizendo “eu já sabia”, os padrinhos cantando um samba, e os convidados aos poucos entrando no ziriguidum. No fim do dia, durante a lua-de-mel, sonhei que havia acordado.

Bom, se isso não bastar, eis minha ultima ficha: minha cadelinha Xina. Ganhei-a aos 14 anos. Eu cuidava tanto dela e a amava, mas um dia ela me abandonou. Fiquei desolado. Meu primeiro fora. Fiquei dias no quarto lendo Crepúsculo e ouvindo sertanejo. Quando me recuperei, anos depois a encontrei, feliz, comendo ração em alguma casa próxima a minha. “Não sabia que ela comia, achava que funcionava com pilha”. Bom, vivendo e aprendendo, e ao menos eu estava vivendo. Mas amando, sempre. 




terça-feira, 19 de julho de 2016

PEDIDO DE CASAMENTO – C.L.



Narciso estava pronto. Tinha decidido que naquele dia iria pedir Bromélia em casamento. E havia se preparado para tanto. Seria uma noite escolhida em cheio, céu estrelado, luzes da cidade, primavera, maio. Ele havia comprado um terno de tweed, talvez o mais caro, que iria usar naquela noite.. Tinha pensado em tudo. Encomendou com um mês de antecedência, na alfaiataria Boulevard Bolchevique Gorbachev-Reagan. Suas medidas eram 30 de tórax, 45 cm de busto, 75 de arbusto. Mas não precisava se preocupar, pois o alfaiate era norueguês, e isso representava segurança e confiabilidade. Um dia antes chegou a sua casa um perfume vindo de Paris, chamado Mont Serrat, nº15, que, no mundo, só havia 10. Reservou uma mesa no François Peperoni di Barcelona, o mais elegante restaurante da cidade. Três presidentes haviam jantado naquele restaurante. O dono do restaurante, inclusive, fora amigo íntimo de Frank Sinatra e Amadeus Mozart (ignorem a questão cronológica). Sua mesa era a mais próxima da sacada que dava vista à torre Eiffel. A mesa e a cadeira haviam sido preparadas para o encontro, sendo o material produzido com madeira de lei vindo da Amazônia, os estofados eram de linho e a textura lembravam os brancos marfins. Havia na mesa um lustre grande e dourado, além de todo o jogo de jantar em porcelana artesanal. Havia flores em diversos vasos próximos a mesa, o que iria ajudar na aromatização do local. O garçom já havia separado um vinho Chardonay Francês, achado por arqueólogos e datados da época de Tutankamon, mas que iria chegar à maturação exatamente no momento que fosse servido. O vinho acompanharia uma massa preparada por Mario Luigi, o maior chef de cozinha italiano e também encanador nas horas vagas. Além disso, dois violinistas da Orquestra Sinfônica de Londres tocariam Io Che Amo Cholo Te, juntamente com uma mezzo soprano argentina. Após o jantar, seria servido um profiteroles, onde estariam escondidas as alianças. De ouro, com diamantes de 64 quilates, poderiam encantar qualquer mulher apenas com seu brilho. Ele iria chegar às 20 horas, de limusine Mercedez, que seu chofer Rosamundo Pilcha estaria pilotando.

No decorrer da noite, Narciso ouviu três frases que jamais esquecera. Primeiramente, “não”. Posteriormente, “pois você é muito criterioso”. E por fim, “mas nada impede que sejamos amigos”. Bromélia não havia desprezado o esforço de Narciso. Mas seriam assim todos os dias do casamento? Investiria isso tudo nela pela eternidade? Pode-se comprar o amor? Não podemos culpá-la, então. Narciso não pensara assim. Mas com classe soube resolver a situação. Enviou os boletos de tudo para o endereço de Bromélia e fugiu para o Camboja. Hoje é camponês. Encontrou Jasmin. Pediu-a em casamento. Sem pompa. Levou outro “não”. “Narciso não é homem para casar”, dizia sua avó. Narciso não ouve. Ele age. E paga.